Parto na Água – 11 fatos que você precisa saber
novembro 07, 2021Já imaginou ter um parto na banheira, com pétalas de rosas sobre a água cristalina. Na playlist tocando Maria Bethânia:
“Debaixo d’água tudo era mais bonito, mais azul, mais colorido, só faltava respiraaar… Mas tinhaaaa que respiraaaar…”.
Então... vamos conversar, que eu tenho 11 coisas pra te contar sobre parto na água.
Nesse post você vai encontrar
- O que é um parto na água?
- Por que gostamos tanto de água?
- Quando começou essa história de parto na água?
- Posições para o parto na água
- Dicas para preparar o local
- Como acontece o nascimento na água?
- Evidências Científicas
- Mitos sobre o parto na água
- Quando o parto na água não é recomendado?
- Sem Romantismo.
- Como conseguir um parto na água.
- Lembre-se sempre: o parto é seu!
01. O que é um parto na água?
Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa.
Imersão na água durante o trabalho de parto é bastante utilizada quando as mulheres entram numa banheira ou piscina com água aquecida, é um dos métodos de alívio da dor, ainda na primeira fase do trabalho de parto, antes do bebê nascer.
Parto na água é quando a mulher vai permanecer na água ou aquela que vai experimentar imersão somente quando estiver no período expulsivo e então bebê nasce na água. Após nascer é trazido à superfície para então começar a respirar e ser acolhido aqui fora.

IMPORTANTE: é um tipo de parto que pode acontecer tanto domiciliar como em centros/casas de parto ou hospitalar.
02. Por que gostamos tanto de água?
Cerca de 60 a 65% do corpo humano é composto de água, seja em nossos músculos, ossos e até 95% do nosso sangue. Por muitos meses de gestação, o bebê se desenvolve num ambiente aquático, envolvido pelo líquido amniótico, dentro do útero onde estará protegido e aquecido.
A água está presente em nossa fisiologia diária quando precisamos beber para nos hidratar, no banho para relaxar de um dia cansativo, num banho de mar ou de piscina. Água, muitas vezes usada nos rituais de purificação, no processo terapêutico da hidroterapia e de tantas outras formas.

Durante a gestação e o trabalho de parto, a água vem sendo muito utilizada como um dos métodos não-farmacológicos de alívio da dor, seja a água quente caindo do chuveiro ou poder mergulhar numa piscina ou banheira.
O incrível é que a água tem a força de fazer o corpo flutuar, por reduzir a ação da gravidade, deixando mais fácil a movimentação, diminuindo a sensação de peso, ajudando a relaxar entre uma contração e outra, até aliviando a dor e o desconforto das contrações.
Cada vez mais mulheres têm sentido vontade de usar esse recurso tão simples e poderoso em seus trabalhos de parto.
03. Quando começou essa história de parto na água?
Apesar de algumas descrições de partos na água nos tempos antigos e em muitas culturas, os partos na água só se tornaram uma prática mais conhecida nos anos 1980 e 90.
No tempo em que os partos eram atendidos em sua maioria pelas parteiras, elas já sabiam do poder que um banho quente por imersão era muito bom para a mulher em trabalho de parto.
Mas foi por volta de 1960, que um pesquisador soviético chamado Igor Tiarkovsky, explorou pela primeira vez essa possibilidade de as mulheres entrarem em banheiras mais fundas, a ponto de cobrirem seus corpos, e também parirem seus bebês ali.
Logo depois, ainda na década de 60, o obstetra francês Frédérick Leboyer, começou a dar banhos nos recém-nascidos logo que nasciam, por constatar que ajudava na adaptação da temperatura dos bebês fora do útero de forma gradual.
Em 1980, o primeiro parto na água foi documentado nos EUA, e a imersão durante o trabalho de parto tornou-se popular devido aos relatos de alívio da dor e movimentação mais fácil.
Em 1983, o Dr. e Obstetra Michel Odent publicou um artigo citado na revista Lancet, descrevendo 100 partos na água que ocorreram num hospital em França.
Michel Odent, o cientista dos hormônios do “amor”, também foi um dos pioneiros. Instalou uma banheira num espaço da sala de parto, chamada de “salle sauvage” em francês, traduzindo para o português “sala selvagem”, no hospital em que atuava na França, em 1977. Até 1983, milhares de mulheres usaram a banheira durante o trabalho de parto, mas apenas 100 delas pariram na água. Odent percebeu que a maioria das mulheres preferia sair da água no expulsivo.
Ao observar as mulheres que preferiam continuar na banheira durante o expulsivo, viu que era um ambiente que facilitava o primeiro contato entre mãe-bebê e não apresentava mais riscos além dos riscos habituais de um parto fora da água.
04. Posições para o parto na água
Essa é a graça de um parto na água, a liberdade para se movimentar e encontrar a posição que achar mais confortável.

Quem estiver dando assistência ao parto pode entrar, mas a maioria fica do lado de fora e se precisar intervir pode entrar na água a qualquer momento ou a mulher sair. O(a) acompanhante pode entrar ou ficar fora, pode também ficar atrás da mulher lhe dando apoio. Assim como a doula com todo seu suporte.
As principais posições são:
- 4 apoios: Se ajoelhar e ficar apoiada na borda da banheira;
- Cócoras, com a água fica mais fácil e menos cansativo se agachar ;
- Semi-sentada.
05. Dicas para preparar o local para o parto na água

Principalmente se for parir em casa!
- No caso de parto domiciliar pode comprar ou alugar uma piscina, ou ver se a equipe disponibiliza;
- Se for hospitalar precisa verificar o que o local disponibiliza e exige;
- Banheira ou piscina grande o suficiente para permitir mudanças de posições;
- Profunda o bastante para ficar sentada e a água cobrir os seios;
- Se piscina: de preferência com bordas largas, ter uma boa bomba para inflar, aquecedor e termostato;
- Termômetro de água;
- Uma peneira de plástico para limpar a água;
- Temperatura ideal da água é por volta dos 37,5°C;
- Desinfetar a piscina antes ou colocar uma capa plástica descartável para revestir a parte interna.
06. Como acontece o nascimento na água

O bebê vai coroar, a cabeça vai aparecer, quem estiver assistindo ao parto vai verificar se não há circular de cordão no pescoço, se estiver, vai desenrolar ou aliviar para deixar o processo continuar.
O calor da água ajuda o períneo a amolecer.
Você pode botar a mão para sentir esse acontecimento maravilhoso e também conduzir a saída do bebê.
Lembrar de manter a calma neste momento. Proporcionando uma saída tranquila e suave, pode deixar o bebê ainda um tempo embaixo da água. O ideal é não passar de 2 minutos.
O estímulo da respiração acontece quando o bebê for para uma temperatura um pouco mais fria. Enquanto estiver debaixo da água ele continuará recebendo oxigênio através do cordão umbilical.
Cuidado ao puxar o recém-nascido muito rápido para cima, pelo risco de rasgar o cordão, pela rapidez ou tração muito forte do cordão, ainda mais se for curto, pode causar uma hemorragia no recém-nascido se não for solucionado a tempo.
Após o nascimento, a mulher deve ser incentivada a amamentar, os primeiros sinais vitais do bebê podem ser avaliados ainda no colo da mãe e após o cordão umbilical parar de pulsar, será decidido entre a mulher e sua equipe se desejam esperar o nascimento da placenta na água ou sair da água. Então serão avaliados o períneo e sangramentos.
Logo após toda esta jornada que vocês dois passaram, poderá deitar na sua cama, relaxar e curtir seu bebê.

07. Evidências Científicas sobre o parto na água
Segundo alguns estudos e pesquisas o parto na água apresentou:
- Maior chance de parto natural: Os investigadores descobriram que as mulheres com parto na água tiveram taxas mais elevadas de partos espontâneos vaginais (sem fórceps ou ventosas).
- Menos chances de lacerações de 3º e 4º graus: A razão das taxas de laceração do períneo (rasgo natural que geralmente ocorre na região da vagina e lábios internos) de 1º e 2º grau serem mais elevadas em mulheres com parto na água é porque muitas dessas mulheres teriam tido uma episiotomia (corte cirúrgico no períneo) se tivessem parido fora da água.
Por outro lado, as mulheres com partos em terra têm menos taxas de laceração de 1º e 2º grau, mas porque muitas delas são cortadas em vez de lacerar naturalmente, ou mesmo a chance de não lacerar.
- Taxas de lacerações de 3º e 4º graus são mais baixas nas mulheres com parto na água comparadas com as que pariram em terra.
Num estudo com 1.519 mulheres italianas com parto na água, descobriram que 0,3% das mulheres com parto na água tiveram laceração de 3º grau e nenhuma de 4º grau.
No Reino Unido, 2% das 5.192 mulheres com parto na água tiveram lacerações de 3º grau. Não tiveram registros de lacerações de 4º grau.
- Maior possibilidade de períneo íntegro: Quatro em cinco estudos indicam que as mulheres com partos na água têm maior probabilidade de parir com períneo íntegro (sem laceração).
As evidências mostram que as episiotomias podem amentar o risco de trauma perineal grave, como as que acontecem em lacerações de 3º e 4º graus.
- Necessidade de analgesia: Em 7 dos 7 estudos as mulheres com parto na água usaram menos analgésicos.
- Nível de sensação de dor: O parto na água pode alterar as percepções das mulheres, elas recordam o parto como menos doloroso do que de fato foi.
- Menor Duração do Expulsivo: 3 de 5 investigadores, descobriram que as mulheres com parto na água tinham fases expulsivas mais curtas.
- Diminuição de Hemorragia Pós-Parto: Em seis estudos, três descobriram uma diminuição significativa de hemorragia pós-parto após o parto na água.
- Maior chance de um parto não manipulado ou “hands-off”: 79% das mulheres que pariram na água tiveram um parto não manipulado. Significa que o profissional que estava assistindo ao parto não mexeu no bebê enquanto estava nascendo.
- Maior Satisfação: Em outro estudo, 72,3% das mulheres que tiveram parto na água declararam que com certeza voltariam a parir novamente na água.

08. Mitos sobre o parto na água:
- Cocô na água: Se retirado rápido, de preferência com uma peneira, não há indícios de risco de infecção.
- Risco de infecção materna ou neonatal: grandes estudos não mostraram aumento do risco de infecção, mas houve relatos de infecções após parto. Este risco pode ser reduzido verificando amostras regulares do fornecimento de água do hospital, mangueiras e piscinas, e instalando filtros de água quando necessário;
- Risco de desconforto respiratório: Num estudo com 8.924 mulheres de baixo risco que foram assistidas por parteiras e que usaram a água durante o trabalho de parto ou no parto, a prevalência de dificuldades respiratórias temporárias foi de 31 bebês em 5.192 partos na água (0,6%) e 35 bebés em 3.732 partos em terra (0,9%); e
- Risco de aspiração de água ou medo do bebê se afogar:
09. Quando o parto na água não é recomendado?
- Quando a mãe deseja sair da água;
- Parto Prematuro;
- Expulsivo muito prolongado (descida e saída do bebê);
- Indícios de condição fetal não tranquilizadora – como liberação de mecônio dentro da água, frequência fetal não tranquilizadora;
- Parto pélvico, pois precisa de uma atenção maior e caso precise de manobras para a saída do bebê;
- Indícios de bebês grandes (macrossômicos), pela possibilidade maior de haver dificuldade na saída do bebê (distócia).
10. Sem Romantismo
Muitas vezes a mulher planeja um parto na água e até mesmo romantiza o parto. Normal esse tipo de expectativa, com tantos vídeos editados de partos e tanta ocitocina nos relatos, muitas omitem o parto real, por tabu, vergonha ou esquecimento mesmo.
A mulher sonhou com pétalas de rosas na banheira, mas o parto foi tão rápido que só rolou um cocô boiando mesmo.
Água límpida? Pode ficar turva com algumas secreções ou vermelha de sangue, cheia de vérnix do recém-nascido, vai sentir aquele cheiro adocicado de sangue e suor do parto.
Assim como planejar um parto domiciliar, que pode começar em casa, mas por “N” motivos pode terminar num hospital, num parto instrumental ou numa cesárea necessária. Não dá para saber se o parto vai acontecer na água e não tem problema se no expulsivo, você mulher, se sentir mais confortável numa banqueta, na cama, no chão ou precisar de uma intervenção necessária.
Esteja aberta para encarar o seu parto, um parto REAL.
foto de Jason Lander via flickr.com
11. Como conseguir um parto na água?
Ainda precisamos de grandes estudos, com números maiores de participações, quando o assunto é parto na água.
Mas os estudos disponíveis já se mostram vantagens de parir na água, como: redução da necessidade de analgesia, redução de episiotomia e lacerações espontâneas, menor duração da primeira e da segunda fase do trabalho de parto e maior satisfação da mulher com o próprio parto.
O parto na água é só uma das muitas opções que todas as mulheres em trabalho de parto deveriam ao menos ter acesso para ter direito de escolher se querem ou não experimentar.
Sabemos das dificuldades de acesso para conseguir esse recurso. Durante o pré-natal muitas são desencorajadas por seus médicos, que se baseiam no mito de que parto na água é perigoso. Falta investimento nas salas de parto por parte de gestores de maternidades.
Conheça seu hospital de referência, visite, questione, se for possível contrate uma equipe de confiança, que te acolha e dê liberdade de escolha. Se não for possível, preencha seu plano de parto e busque
Vamos espalhar informações, lutar por nossos direitos, por nossas escolhas, por um pré-natal de qualidade e com profissionais atualizados, por maternidades, centros e casas de parto com uma boa estrutura para o parto, acesso a equipes de parto domiciliar no SUS e particulares.
O parto na água representa uma opção segura para as mulheres que o desejam, os profissionais devem respeitar a autonomia da mulher sobre a decisão do local de seu parto.
Lembre-se sempre: o parto é seu!
Gostou do texto? Compartilhe com quem você deseja dividir estas informações.
Obrigada por ler este texto, deixe dicas de qual tema você gostaria de ler aqui. Se você desejou ou já conseguiu o seu parto na água, conta aqui nos comentários a sua experiência ou me mande um e-mail contando a sua história, podemos fazer até uma aba de relatos aqui: doulajulinemarconato@gmail.com
Abraços da Doula,
Juline Marconato
Você pode ler mais em estudos científicos sobre o assunto. Essas foram as minhas referências de base para este texto :
- Trecho da música Debaixo D’agua: Composição de Arnaldo Antunes (2001) e interpretação de Maria Bethânia
- Taxa de água corporal: https://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%81gua_corporal
Riscos de aspirar água:
Trecho do post da Dra. Malania Amorim – Blog Estuda, Melania, Estuda! http://estudamelania.blogspot.com.br/2012/09/estudando-sobre-parto-na-agua.html
Parto na Água
Balaskas, Janet – Livro Parto Ativo: Guia Prático para o Parto Natural – A história e a filosofia de uma revolução… Editora Aquariana/Ground – 3ª edição São Paulo/2015 – Capítulo 8. Parto na Água, páginas 261 a 278.
- Evidências Científicas:
Evidence Based Birth – potal da Dra. Rebecca Dekker, criado para facilitar o acesso as evidências científicas dos cuidados no nascimento. https://evidencebasedbirth.com/evidencias-cientificas-para-o-parto-na-agua/
Proibido a reprodução deste texto. Apoie meu trabalho e compartilhe com os devidos créditos.
*Texto escrito originalmente para o blog https://blog.casadadoula.com.br/parto-normal/parto-na-agua-11-coisas-que-voce-precisa-saber/ em 05/03/2018
0 comentários. Clique aqui para comentar também!